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Customização de motocicletas e capacetes ganha espaço em Manaus ( Foto Reprodução) |
Antes, pintor de telas, mas empreendimento garantido mesmo é customizar com aerógrafo
O grande sonho de Rícolla é se tornar um pintor de quadros renomado mas, muitas vezes, o destino nos leva por caminhos inimagináveis. Quando sobra tempo, Rícolla consegue pintar belos quadros, mas seu talento está sendo reconhecido mesmo é nas pinturas que ele faz em capacetes e motos.
Desde criança Arinaldo Gomes Paiva virou Ricola, depois aperfeiçoado para Rícolla. Em Óbidos, no Pará, onde nasceu, o garoto começou a fazer suas pinturas como autodidata.
“Em Belém, já adulto, estudei, me capacitei e depois dei aulas de grafite, na Fundação Curro Velho. De volta a Óbidos, dei aulas de desenho e pintura em tela, na Casa de Cultura. Naquela época já alimentava o sonho de ser um pintor famoso”, recordou.
Um dia, vendo TV, chamou a atenção de Rícolla um programa onde uma pessoa fazia pinturas com um aerógrafo, aparelho que, até então, ele desconhecia.
“Achei muito interessante e, como não tinha computador em casa, corri pra um cyber café. Acessei a internet, pesquisei como comprar um aerógrafo e pedi um. Isso foi mais ou menos em 2007”, lembrou. “Quando o aerógrafo chegou, empolgado, comecei a usá-lo e, instantaneamente, dominei o jato de tinta que saia do aparelho com muita facilidade. Talvez pela prática do spray, não sei, mas parecia que eu já sabia manuseá-lo há tempos. Comecei a pintar capacetes e motos”, contou.
Milhares de motos
Em 2010, Rícolla veio para Manaus. “Alguma coisa me dizia que em Manaus eu faria sucesso pintando minhas telas. Mas não foi bem assim. Me enturmei com vários artistas, participei de eventos, mas dinheiro que é bom, nada. Tive que começar a procurar emprego”, disse.
“Em 2013 arrumei emprego numa empresa do Polo Industrial de Manaus, mas confesso, não fui nem um pouco satisfeito e desde o começo não me identifiquei com o trabalho. Foi então que minha esposa me acendeu uma luz. Ela lembrou que, em Óbidos, eu ganhava dinheiro pintando capacetes e motos. E Manaus tinha milhares de motos a mais do que em Óbidos”, revelou.
A questão agora era, como conseguir clientes. Mais uma vez a máxima de que a propaganda boca a boca é a melhor, se fez valer. “Eu havia pintado o capacete e a moto de um vizinho num outro bairro onde morara, mas havia mudado de lá. Certo dia, um rapaz bateu na minha porta e exclamou:
até que enfim te encontrei! Ele era amigo daquele vizinho que eu pintara o capacete e a moto. Gostara do trabalho e queria que eu fosse trabalhar na tapeçaria, com ele. Na tapeçaria esse rapaz forrava capacetes e disse que muitos dos seus clientes queriam customizar seus capacetes e motos, mas não conheciam ninguém que fizesse aquele tipo de arte, em Manaus”, falou.
Como qualquer negócio, o começo de Rícolla não foi fácil. “No primeiro mês não apareceu ninguém, porém, a partir do segundo mês, os clientes começaram a surgir, e não pararam mais nesses quase seis anos”, comemorou.
Conhecida popularmente como customização, Rícolla prefere chamar sua arte de aerografia e se auto-intitula ‘airbrush designer’.
“A maioria dos clientes tem a idéia dos desenhos que quer no seu capacete, ou moto, mas não sabe como torná-los reais. Então converso com eles, rabisco a idéia e, a partir daquele rabisco, o cliente vai tendo mais e mais idéias”, explicou.
“Após isso, crio a arte final no computador e faço uma montagem, num capacete ou moto. O cliente ‘pira’ quando vê no computador”, riu.
“Essa é uma arte que quase ninguém está fazendo, em Manaus. Eu só conheço um rapaz. Fico feliz de ser um dos precursores”, afirmou.
“Uma arte num capacete, por exemplo, pode durar de uma semana a 20 dias. Varia muito, bem como os preços, de R$ 200, a R$ 1.000. Já pintei um triciclo inteiro. Começo a trabalhar às 7h e sigo direto até por volta de meia-noite. Não paro nunca. Faço um desenho num, pinto outro e coloco pra secar um terceiro. É um ciclo interminável”, avaliou.
E quem disse que Rícolla esqueceu o sonho de se tornar um pintor de telas famoso? Ano passado, junto com outros artistas de renome do Amazonas, ele mandou um de seus quadros, intitulado ‘Jaraqui’, para participar do 3º Salão de Arte Brasileira, em Vaduz, na Suíça. Com mais de 60 outros artistas brasileiros, e até alguns estrangeiros, participando do Salão, o quadro de Rícolla ficou em segundo lugar, escolhido pelos visitantes e especialistas. Para completar, a embaixatriz brasileira na Suíça encomendou outro quadro de Rícolla.
“E pagou muito bem por ele. Foi o quadro ‘Papagaio’, que hoje deve estar na parede da embaixada brasileira”, comemorou.
“Quando tenho um tempinho, entre uma aerografia e outra, vou pintando meus quadros. E aguardem. Pretendo fazer uma exposição de quadros pintados com aerógrafo, uma coisa inédita em Manaus”, adiantou.
Fonte - Jornal do Comércio - Manaus
Por Evaldo Ferreira - evaldo.am@hotmail.com
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