![]() |
Foto/ Boto Cor de Rosa- Agência Pará |
Vitória contra o Tucuxi quebra a invencibilidade do boto cinza que perdurou as três edições anteriores do festival
A Associação Folclórica Boto Cor de Rosa saiu vencedora do Festival dos Botos, a programação do Çairé 2018, a maior festa folclórica da região do Baixo Amazonas. No final da tarde de hoje (24), foi realizada a apuração de votos das duas agremiações, no Lago dos Botos, arena da Praça do Çairé, no distrito de Alter do Chão, onde ocorrem as apresentações dos botos Tucuxi e Cor de Rosa a cada ano.
A 21ª edição do Çairé atraiu público de cerca de 150 mil pessoas, conforme a estimativa dos organizadores, para 120 horas de programação nos 80 eventos realizados durante os cinco dias de festa, ocorridos entre 20 e 24 deste mês.
O Çairé consolida 300 anos de tradições culturais entre simbologias profanas e religiosas. No último sábado (22), foi realizado o ponto alto da programação com as apresentações do Tucuxi e do Cor de Rosa. A programação encerrou com a apuração dos votos dos jurados e a festa dos barraqueiros. O Boto Cor de Rosa venceu com 462 pontos contra 460 do Tucuxi, quebrando a invencibilidade do boto cinza que perdurou as três edições anteriores do festival.
Associação Folclórica Boto Cor de Rosa levou mais de 700 brincantes para a arena para apresentar o tema "A origem do povo Borari". Keisse Borari, da comissão de arte do Cor de Rosa, estava muito feliz com a repercussão do desfile entre o público presente e os expectadores que assistiram a transmissão do espetáculo pela televisão e pela internet. "O nosso tema foi a origem do povo Borari. Optamos por contar a nossa própria história, a evolução da nossa cultura ao longo das gerações desde a origem indígena até a miscigenação com africanos e europeus, a relação com o rio e os encantados, e também trouxemos a mensagem de que somos guardiões da nossa terra.
"A gente tá muito confiante porque conseguiu desenvolver o tema. A gente não pode fazer um trabalho pensando só no título, passando por cima de valores importantes, como a valorização da nossa cultura e as questões ambientais e territoriais que a gente enfrenta."
Este ano, o Grupo Sociocultural Boto Tucuxi foi o primeiro a entrar na avenida. Ele levou 800 brincantes para apresentar o tema "Identidade Tapajônica", no Lago dos Botos. O vice-presidente do Tucuxi, Edilberto Ferreira, autor do enredo deste ano, explica que o tema foi desenvolvido a partir das visões tidas pelo etnólogo alemão Cnimuendaju, quando consumiu o chá alucinógeno do Santo Daime, em Santarém, em 1938. As visões do cientistas foram consideradas premonições. "Ele conseguiu ver o passado e o futuro daquela aldeia. Ele viu a profecia do que iria se transformar a região e que iríamos passar por problemas ambientais, como mercúrio no rio Tapajós, devastação e a construção de barragens. Ele esteve com o grande chefe da aldeia de Nurandaluguaburabara e a a líder das Icamiabas, Maria Moaçara. Juntos, eles clamaram aos deus dos deuses, o Iamandu, que mandou o boto Tucuxi como símbolo de preservação e do restabelecimento da paz ao Tapajós", explica. "Fizemos uma apresentação linda."
O Festival dos Botos foi introduzido na Festa de Çairé, em 1997, com a disputa entre as associações folclóricas Tucuxi e Cor de Rosa. O Festival dos Botos tem o Festival dos Bois de Parintins (AM) como referência. E a festividade de Çairé é marcada pelo profano e religioso, com ladainhas e rituais que lembram os povos indígenas.
ORM
Nenhum comentário:
Postar um comentário